Maçons continuam não lendo

Maçons continuam não lendo?

Antonio Juliano Breyner

Membro Consistório dos Príncipes do Real Segredo -BH - SCMG

CIF 9554

                Um texto de autoria do Ir. Albert Gallant Mackey publicado em 1875, reimpresso no “The Master Mason” em outubro de 1924, continua atual em sua construção e em sua “leitura” dos tempos maçônicos hodiernos. Considerações devem ser feitas e propostas também: o que fazer para que os maçons leiam mais?

            Feita a pergunta vamos tecer considerações sobre o momento atual da sociedade em que estamos inseridos. A análise é fundamental para que possamos entender nossas eventualidades literárias maçônicas no primeiro quarto de século XXI.

            Uma consideração importante vem do teórico da pós-modernidade, Zygmunt Bauman, autor do livro - O MAL-ESTAR DA PÓS-MODERNIDADE -que considera a sociedade como “líquida”, isto é: molda-se rapidamente a todos os acontecimentos. A visão de Bauman reflete diretamente nos obreiros, estes são elementos da sociedade, participam e representam a sociedade dentro das Lojas, trazem esse conhecimento social e se moldam rapidamente às modificações profanas e não tão profanas. A consequência dessa “sociedade líquida” para a Maçonaria ainda não sabemos, as análises históricas e estatísticas dirão.

            O que já se considera real é o embate entre o maçom “antigo” “(antigo aqui refiro a mais de 20 anos de Ordem) e o jovem que tem menos de 40 anos de idade, produz imediatamente um ambiente inusitado entre os irmãos: uma distensão. Essa distensão pertence ao moderno (não tão moderno) que é o acesso à web – internet – plataformas digitais etc. O jovem maçom está inserido diuturnamente nas redes sociais, seu mundo está em um aparelho que ele carrega no bolso, o mundo está no aparelho celular e, o maçom “antigo” tem dificuldade do entendimento e manuseio do aparelho, consequentemente uma visão de mundo maçônico é diferente entre o antigo e o novo, causando severas rupturas, distensões e atitudes. As LOJAS/POTÊNCIAS devem discutir a “questão internet na Maçonaria” com mais profundidade e resolver o que fazer. Muitos jovens maçons iniciam e deixam a Ordem, a pergunta é: Por que acontece o desligamento precoce? Não seria a “proibição” do uso das ferramentas da web por e nas LOJAS?

            E a pergunta sobre se os maçons leem ou não, continua dentro da “sociedade liquida “. O que lemos hoje sobre Maçonaria? A resposta é a mesma de 1875. Hoje temos uma grande quantidade de Livros virtuais, sites e canais no Youtube com temática maçônica, grupos na WhatsApp que compartilham livros maçônicos de todas as categorias gratuitamente (discutida legalidade do ato). Mas a pergunta continua: qual maçom lê essa produção diária de informação? Não podemos esquecer que na sociedade, dentro das universidades e diversos setores temos os “analfabetos funcionais”. Já pensou nesta categoria de cidadãos?

            Mackey classifica os maçons em três classes: A primeira é dos maçons que iniciaram para buscar benefícios individuais, seja financeiro ou protetivo. Logo pedem o desligamento ou tornam-se inoperantes. A segunda classe é dos maçons que veem na Maçonaria uma Instituição que fornecerá as ferramentas necessárias ao melhoramento consciencial moral. São os verdadeiros maçons. Leem os livros, rituais, participam de palestras e conversas com os considerados melhores preparados. São os faróis da Loja. A terceira classe são aqueles que iniciaram com boas intensões, mas falharam em levar intensões a efeito. São aqueles que não conhecem nada da doutrina e filosofia maçônica, mas “ardem o coração” por cargos e medalhas. São os “burros de ciganos”. Estão com suas lapelas carregadas de medalhas e comendas, estão inclinados pelo peso delas, mas não se vergam ao estudo da ritualística, doutrina e filosofia maçônica.

            O texto traduzido pelo Ir. Mestre Maçom Antonio Jorge e publicado no blog do estimado Ir. José Filardo – BIBLIOT3CA FERNANDO PESSOA – em sua pág. 3 e complemento na 4 “Não se deve supor que se espera que todo o Maçom seja um Maçom erudito, ou que todo iniciado seja obrigado a se dedicar ao estudo da ciência e literatura maçônica. Tal expectativa seria tola e irracional. Todos os homens não são igualmente competentes para aprender e reter a mesma quantidade de conhecimento. A Ordem, diz Pope – A ordem é a primeira lei do céu. Alguns são, e devem ser, melhores do que os outros. Mais ricos, mais sábios. Tudo o que eu defendo é que, quando um candidato entra na Maçonaria, ele deve sentir que há algo nela melhor do que seus meros apertos de mãos e sinais, e que se ele se deve esforçar com toda a sua capacidade para alcançar algum conhecimento dessa coisa melhor. Ele não deve procurar progredir para graus mais elevados sem conhecer algo dos mais baixos, nem tentar obter um cargo, a menos que tenha previamente cumprido, com alguma reputação de conhecimento maçônico, os deveres de um cargo inferior”.

            No parágrafo anterior observamos que não se trata de buscar no mundo profano candidatos que possuam exclusivamente um curso superior, aliás, dentro desses ditos “curso superior” uma grande parte é “analfabeto funcional”. Trata-se então de buscar cidadãos que consigam interpretar o que leem, que possam estudar os RITUAIS, que possam enfim assimilar todas as informações sobre os SÍMBOLOS e ALEGORIAS da MAÇONARIA. A compreensão dos textos publicados por escritores maçons, são simples para o entendimento, mas é necessário ter a habitualidade da leitura. Nada adianta uma publicação de artigos, livros, revistas sobre Maçonaria, compartilhar tudo isso nos grupos constituídos de maçons, se estes não leem.

            Há alguns anos, tínhamos uma grande dificuldade de adquirir livros, revistas e assinar periódicos ou revistas que tratam da temática maçonaria. No interior não tínhamos (ainda não temos) livrarias, mas a internet nos deu “asas” e facilitou a aquisição de tudo que é publicado sobre Maçonaria; desde revistas virtuais aos e-books. Mas com tudo isso ainda estamos lendo muito pouco.

            Mas insisto na pergunta: por que os maçons não leem? Uma das hipóteses a ser comprovada é a escolha e indicação do candidato. Não importa se o candidato tem ou não curso superior, essa situação é totalmente desnecessária, o que importa é se o candidato tem o hábito de ler jornais, periódicos ou mesmo livros e se consegue entender o que lê. Se a resposta for afirmativa, certamente será um maçom que passara pelos graus com razoável estudo e aquisição de algum conhecimento sobre cada grau; agora, se não tem o hábito da leitura, será “tabula rasa”, não passará de um “poste” dentro da Loja. Surge outra pergunta: se não lê e não entende o que lê, como será um MESTRE MAÇOM?

            Diuturnamente encontramos maçons de todos os graus repetindo como “papagaios” as informações transmitidas pela oralidade, uma diversidade de informações muitas sem nenhuma comprovação histórica documental, algumas arrepiam de Anderson ao Dr. Mackey, mas como não buscam através da leitura a verdade, repetem, repetem e repetem a estória, ensinando ao “neo” uma fantástica estória. Temos a obrigação de buscar a verdade e esta somente será encontrada em uma pesquisa sistemática e bem direcionada. LER É O MELHOR REMÉDIO PARA COMBATER A IGNORÂNCIA.

            Para finalizar vou transcrever o último parágrafo do texto traduzido pelo Ir. Antonio Jorge em sua totalidade: “Mas, porque há tão poucos maçons que leem, os livros maçônicos dificilmente fazem mais do que pagar aos editores as despesas de impressão, enquanto os autores não recebem nada; e as revistas maçônicas estão a ser, ano após ano, levadas para a Academia literária, onde os cadáveres e periódicos extintos são depositados; e, pior do que tudo, a Maçonaria sofre golpes deprimentes. O Maçom que lê, por pouco que seja, apenas as páginas da revista mensal que assina, terão uma visão mais elevada da Instituição e desfrutará de novos prazeres na posse dessas visões. Os maçons que não leem nada saberão das belezas interiores da Maçonaria Especulativa, mas contentar-se-ão em supor que ela é algo como a Odd Fellowsship, ou a Ordem dos Cavaleiros de Pítia – apenas, talvez, um pouco mais velha. Tal Maçom deve ser indiferente. Ele não lançou nenhuma base para o zelo. Se esta indiferença, em vez de ser controlada. Se torna mais amplamente difundida, o resultado é demasiado evidente. A Maçonaria tem de descer da posição elevada que tem lutado para manter, através dos esforços dos seus acadêmicos, e as nossas lojas, em vez de se tornarem locais para o pensamento especulativo e filosófico, deteriorar-se-ão em clubes sociais ou meras sociedades de beneficência. Com tantos rivais neste campo, a sua luta por uma vida próspera será difícil. O sucesso final da Maçonaria depende da inteligência dos seus membros”.

            Encerrando artigo livre, pergunto: Quantos livros sobre Maçonaria você leu no último ano? Quantos periódicos você leu no último ano? Qual revista maçônica você assina? Façamos nosso “mea culpa” e se não tem o hábito de ler, comece agora; os livros, periódicos e revistas Maçônicas escondem um mundo fantástico e maravilhoso. Descubra-o.

Artigo publicado na REVISTA A TROLHA – Edição 441 – 2023 – pag. 39/40.

 

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